CAROLINA FLOARE PREMIADA COMO MELHOR ATRIZ

A atriz portuguesa, e brasileira também, Carolina Floare, que protagonizou "Hamlet 2012" no papel título da obra-prima de Shakespeare, foi a vencedora do Prêmio Arlequim Melhor Atriz do X Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro (2012). 

Carolina Floare deu vida a Hamlet,
um dos personagens mais complexos da dramaturgia mundial.

Entre 376 peças inscritas, "Hamlet 2012", tradução e adaptação da própria Carolina Floare, foi uma das 16 selecionadas para participar do X Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro.

Nascida como montagem de formatura de uma trupe de estudantes de Teatro, do curso da Cia. de Teatro Contemporâneo, a montagem, com direção de Sílvia Carvalho, seguiu com duas temporadas na cena carioca - no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea) e no Teatro Municipal do Parque das Ruínas - e culminou seu percurso com uma apresentação de sucesso no renomado Festival, no dia 1 de junho de 2012.

Ao baixarem as luzes sobre o corpo morto de Hamlet nos braços de Horácia, os mais de 200 espetadores se ergueram efusivamente e fizeram vibrar as paredes do Teatro Princesa Isabel com seus bravíssimos e aplausos de pé.

Talita Stein, Carolina Floare e Rúbia Reis em cena, na apresentação de "Hamlet 2012" no
X Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro, no dia 1 de junho de 2012, no Teatro Princesa Isabel.

O resultado só podia ser excelente: um Arlequim de Melhor Atriz para Carolina Floare (Hamlet) e três indicações nas categorias de Melhor Espetáculo, Melhor Atriz Coadjuvante para Eloise Marangoni (Polonia) e Melhor Figurino para Francisco Leite.

"Hamlet 2012", um dos três melhores espetáculos do X Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro, pode dizer: missão cumprida!

Eis os responsáveis pelo sucesso:

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA PARA O FESTIVAL
Texto: William Shakespeare
Tradução e Adaptação: Carolina Floare
Direção: Sílvia Carvalho
Elenco: Carolina Floare | Vívian Rodrigues | Ronnie Marruda | Caco Rodrigues | Thais Favatto | Eloise Marangoni | Rúbia Reis | Bianca Paranhos | Talita Stein | Larissa de Souza
Direção de Arte: Francisco E. Leite
Direção de Movimento: Luciana Belchior
Esgrima Artística: Renato Rocha
Trilha: Carolina Floare | João de Carvalho | Paulo César Fonseca
Colaboração Trilha: Andrea Zeni
Iluminação: Genilson Barbosa e Thierry Brito
Som: João de Carvalho
Produção: Trupe Intacta Retina

PATROCÍNIO
Solex Brasil
Cofargo Corretora de Seguros

APOIOS
Denise Ávila Produções e Eventos
Cia. de Teatro Contemporâneo
Casa do Minho
Segredo Erótico
Cúbica
Casting Promoções e Eventos
Fermentto Comunicação
Mr.Dsign
Studios Priscila Aguiar
Maurício Mattos Produções Fotográficas


Carolina Floare em cena, num dos famosos monólogos de Hamlet.

O ESPETÁCULO

HAMLET 2012:
TRUPE DE JOVENS ATORES NAMORA SHAKESPEARE SEM PRETENSÕES E SEM PUDORES
Por: Carolina Floare


Uma história imortal, recontada em algum lugar do tempo. Talvez em 2012 – o ano do “ponto zero” – para que, ao mesmo tempo que a recontamos, a contemos pela primeira vez.

Em algum Reino indefinido à beira-mar, morre subitamente a Rainha. Dois meses passados, o Rei viúvo já está casado com sua antiga cunhada, a nova Rainha, para espanto do povo e revolta da Princesa, ainda em luto pela mãe. Acontece que o espírito inquieto da Rainha falecida ronda o palácio durante as madrugadas até conseguir se comunicar com a filha. A revelação é terrível: houve um assassinato. Uma irmã matou a outra para ter acesso ao poder e ao amor do Rei. A Princesa, intimada a fazer justiça e a endireitar seu Reino caído na corrupção de valores, renuncia ao amor, reflete e, consequentemente, hesita, procura provas através da loucura e do teatro... Uma vida interrompida por um destino maior que a vida: eis o caminho sinuoso da tragédia.

É isso mesmo. E se Hamlet fosse uma mulher? E se tivessemos uma Rainha assassina? E um Rei entre elas? E se Ofélia fosse Ofel? E se, mesmo assim, a história fosse exatamente a mesma?

“Hamlet” foi escrita por Shakespeare na virada para o século XVII e tornou-se a peça mais estudada, citada e encenada da história do Teatro Mundial. Obra literária divisora de águas, referência do Humanismo, de uma Revolução Moral. O ser humano que se liberta dos grilhões das certezas medievais da alma e ousa perguntar-se: ser ou não ser? A passagem da Idade Média para a Renascença continua a operar-se ainda hoje, em cada alma. É por isso que “Hamlet” nunca morre e é universal, por que é a maior reflexão sobre a condição humana.

“Hamlet 2012” é uma nova tradução deste poema ilimitado e, como tal, busca novos limites da sua beleza e vigor originais. Ao mesmo tempo, é uma adaptação da obra para esse tempo e esse espaço definidos apenas por uma contemporaneidade e por um mar. A inversão dos gêneros de (absolutamente) todos os personagens é um desafio experimental à própria essência da obra: o seu humanismo. Para a reflexão sobre a condição humana, obviamente tanto faz ser-se homem ou mulher. E é exatamente essa essência da obra que queremos fazer ressaltar, através da surpresa de estarmos perante a mesma história apesar da subversão radical das formas. Fora isso, é mais um “Hamlet” erguido por mais uma trupe de atores apaixonados por seu ofício, que um dia quiseram criar caminhos transversos e novos sentidos para tocar e viver a maior peça do mundo. Sem pretensões. Mas também sem pudores.



A peça
teve uma primeira curta temporada no Planetário da Gávea, nos dias 
13, 14, 15 e 16 de fevereiro de 2012, às 20h.

A segunda temporada aconteceu de 10 de março a 8 de abril de 2012, sábados e domingos, às 19h, no Teatro Municipal do Parque das Ruínas.

A última apresentação da peça foi no X Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro, no dia 1 de junho, às 21h, no Teatro Princesa Isabel, em Copacabana.


HAMLET 2012:
"UM CONVITE DE OUTRAS SEREIAS"
Por: Maurício Gonçalves


As identidades e práticas culturais estão na ordem do dia. Sublinhar a heterogeneidade de grupos – estigmatizados ou não – incluídos à revelia na recente globalização, destrói todo um pensamento hegemônico. Qual seja, vivemos por muito tempo, nós, ocidentais, sob a égide de um binarismo de base. Acreditávamos no “bem em si”, e nas escolhas únicas entre pares antagônicos – homem/mulher, senhor/escravo, capitalismo/comunismo. O que está em jogo é a criação de caminhos transversos, de sentidos que excedam estas dicotomias. Vale lembrar o Deleuze de Mil platôs, ao propor um espaço transiente. A troca da lógica do “isto ou aquilo” pelo “isso e aquilo”. E aí entra em cena o papel das diferenças.

Vivemos numa sociedade descentrada, que começa a gerir suas peculiaridades através das famosas “guerras de identidade”. No lugar de um Homem, existe um indivíduo que, espantado, descobriu que sua vontade não passava de uma ilha no oceano de si mesmo. Não somos donos de nossas aparências, ferozmente cultivadas por mentiras e mitos “congênitos”. Descobrimo-nos apenas células quando procurávamos o deus da cidade. Os anos sessenta estão a colher seus frutos nesse momento. A contingência e o caráter não sintético dos empreendimentos brilham na ponta do iceberg. Uma síntese fecha um discurso, cria uma certeza, fecha os possíveis horizontes, resseca o solo do conhecimento.

Hamlet 2012 me parece uma proposta imbuída desse novo espírito. É uma aposta. Cada um tem seu Shakespeare. Harold Bloom entronizou o bardo no centro do cânone ocidental; Peter Brook, em suas encenações, surrupiou o “respeito” pelo tradição do império; Tom Stoppard tirou-lhe as calças. O grupo da Trupe Intacta Retina, formado basicamente por mulheres, pretende – e é assim que me parece – destruir a máquina de alteridade que conformou a mulher, aqui, por estas plagas. Não é um Hamlet feminino. É um flerte, uma obra aberta, em processo, um trabalho de reconfiguração. Seja dito: Carolina Floare, a tradutora dessa montagem, é a própria imagem das novas articulações. Bailarina, portuguesa, poliglota, “brasileira”, atriz, escritora e tudo que o verso ainda tiver fôlego para dizer. Portanto, o que se espera não é somente uma “peça de teatro”. Sim, um convite de outras sereias, de novas cantoras. Que o Ulisses-espectador se perca e jamais retorne à casa. Para o emigrado, toda terra é estrangeira, inclusive a sua origem.

Hamlet mulher, interpretada por Carolina Floare
Prêmio Arlequim Melhor Atriz do X Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro (2012)