JUSTIFICATIVA

HAMLET 2012 é resultado de uma investigação inédita sobre a peça que, desde há quatro séculos, mais tem atraído atores e público na história da humanidade.

Numa busca radical e desafiadora por tocar a atemporalidade e universalidade intrínsecas da obra-prima de Shakespeare, a adaptação propõe: por um lado, inverter os gêneros de todos os personagens, mantendo todas as suas características e relações; e, por outro, libertá-los do condicionamento histórico específico, levando-os para o limite de uma era e um espaço indefinido.

Ao revestir a trama de uma nova forma, a experimentação busca fazer aflorar a essência última do conflito dramático que foi escrito. Pois, despojado de toda a espécie de contingência – sexual, social, temporal ou espacial - é o modo como esse conflito humano se mantém intacto que traz um novo fascínio sobre o clássico da dramaturgia mundial.

O conflito interior de um ser humano que se questiona constantemente ser ou não ser?fazer ou não fazer?, impelido a uma vingança para a qual não tem vocação – eis a temática central, que se pretende resgatar de uma época em que o domínio masculino casava com a fragilidade feminina e em que as classes sociais se odiavam, oprimiam e invejavam sob os nomes de “nobreza” e “povo”.

A oscilação 
entre a dúvida e a fé, a traição e a lealdade, o ódio e o amor, o calculismo e a pureza, a covardia e a honradez, a altivez e a inveja, a realidade e o sonho. Onde começam e acabam a loucura planejada como forma de libertação e a loucura real e fatal. A bajulação, as intrigas, o jogo político, o sentido da vida, a justiça. Uma vingança. O passo de quatro séculos entre 1599 (data provável em que Shakespeare escreveu "Hamlet") e 2012 traz o confronto culminante com a própria condição humana.
É, provavelmente, a primeira vez, na história teatral brasileira, em que se invertem os gêneros de todos os personagens desta tragédia shakesperiana.

Ao contrário de outras realizações, tanto no teatro quanto no cinema mundial, em que existe uma tradição de performances femininas do personagem masculino Hamlet*, em HAMLET 2012, o protagonista é real e assumidamente uma mulher – e o mesmo acontece com todos os personagens originalmente masculinos da trama. Da mesma forma, Gertrudes e Ofélia, representantes shakesperianas clássicas da fragilidade e submissão femininas, são, em HAMLET 2012, homens.

Ao proporcionar o confronto fundamental com a condição humana para além das formas, a experimentação proposta em HAMLET 2012 pretende contribuir para a compreensão do homem contemporâneo sobre si mesmo e sobre sua identificação e relação com o outro, o meio e o divino – questões poderosas e pertinentes numa sociedade em que tantos códigos culturais continuam provocando tanto desencontro.

Em especial, a proposta de inversão dos gêneros de todos os personagens remete a uma reflexão sobre a existência e complexidade da alma humana, sobre a igualdade essencial dos sexos acima de qualquer diferença acidental. Pois mostra como qualquer ser humano pode, em determinado momento, ser levado a dominar ou a se submeter, a expor sua força ou sua fragilidade, a seguir sua razão ou sua loucura, independentemente da sua condição sexual.

Por fim, a opção por uma versão do texto que se despe de eruditismos para ganhar força nos aspectos popular e poético faz com que a adaptação trate todas estas questões de uma forma quanto mais acessível e atraente, abraçando o grande público. HAMLET 2012 promoverá, assim, de forma decisiva, a elevação cultural, filosófica e artística dos jovens e da sociedade em geral, bem como a formação de um público teatral crítico.

*Lembre-se, por exemplo, as famosas interpretações cinematográficas de Sarah Bernhardt enquanto Hamlet-homem e de Asta Nielsen enquanto Hamlet-mulher que finge ser homem.